Política

Jair Bolsonaro empregou a mulher com salário de R$ 14,1 mil em maior cargo do gabinete, diz jornal

O deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), pré-candidato à Presidência da República, empregou sua atual mulher, Michelle, durante um ano e dois meses, com o maior cargo em seu gabinete na Câmara dos Deputados, o SP28s, e salário de R$ 8.040 (R$ 14,1 mil hoje). A informação é do jornal Folha de S.Paulo.

Antes, Michelle trabalhava na liderança do PP, partido que já teve Bolsonaro entre os filiados. Quando foi dar expediente no gabinete do marido, ela ainda foi promovida e teve o salário quase triplicado.

Michelle começou o trabalho no escritório do político em 18 de setembro de 2007. Após nove dias, o casal firmou o pacto antenupcial no 1º Ofício de Notas de Brasília e se casaram depois de dois meses. Já como “senhora Bolsonaro”, ela ainda ficou trabalhando por um ano com o marido, quando foi exonerada, em novembro de 2008.

A despedida aconteceu dois meses depois de o Supremo Tribunal Federal (STF), consolidar o entendimento de que a Constituição de 1988 proíbe o nepotismo na administração pública.

Segundo a Câmara dos Deputados, antes de trabalhar com Bolsonaro, Michelle tinha o cargo CNE-13 com salário de R$ 2.900 (R$ 5.300 hoje). Quando foi contratada por ele, passou para o cargo SP26s e ganhava R$ 6.010 (R$ 10,9 mil hoje), mas após sete meses foi promovida pelo marido ao cargo de SP28s, com salário de R$ 8.040 (R$ 14,1 mil hoje).

Mais parentes
Essa não foi a primeira vez que o parlamentar contratou parentes para trabalhar em seu gabinete. Nos anos 1990, familiares da futura segunda mulher, Ana Cristina Vale, que trabalhou no gabinete de correligionários de Bolsonaro. Na época, ele disse para a Folha de S.Paulo que estava se divorciando da primeira mulher, Rogéria. “A Ana Cristina é minha companheira. Não somos casados. Portanto, não são meus parentes.”

Um dos filhos de Jair, o hoje deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSC-SP), também já deu expediente no gabinete do pai, o que foi revelado por ele mesmo durante um discurso na Câmara.

“Já tive um filho empregado nesta casa e não nego isso. É um garoto que atualmente está concluindo a Federal do Rio, uma faculdade, fala inglês fluentemente, é um excelente garoto. Agora, se ele fosse um imbecil, logicamente estaria preocupado com o nepotismo, ou se minha esposa fosse uma jumenta eu estaria preocupado com nepotismo também”, afirmou Jair Bolsonaro, em 2005.

Em 2008, o STF disse que o nepotismo viola os princípios da moralidade e impessoalidade expressos na Constituição de 1988, não necessitando de lei específica para sua proibição. Ou seja, os infratores podem responder a ação de improbidade. Lembrando que a vedação ao nepotismo já estava expressa na lei que trata do regime jurídico dos servidores públicos civis da União, de 1990 –ela proíbe ao servidor manter “sob sua chefia imediata, em cargo ou função de confiança, cônjuge, companheiro ou parente até o segundo grau.”

Esclarecimentos
O jornal Folha de S.Paulo entrou em contato com a assessoria de Jair Bolsonaro, mas não houve respostas. A reportagem ainda tentou falar com o deputado por telefone, mas não conseguiu contato.

Em outras oportunidades, como em 2007, o deputado defendeu a prática e criticou o jornal, que na época revelara que deputados federais davam emprego a 68 parentes por R$ 3,6 milhões ao ano. “Vocês não querem saber se é competente, se não é. Só querem saber se é parente. E esculacha o nome do parlamentar. Pode escrever isso aí”, disse, na ocasião, o atualmente presidenciável.

Ao jornal O Globo, ele informou que agiu dentro da lei ao se pronunciar sobre a contratação de familiares de uma ex-mulher.